quinta-feira, 15 de abril de 2010

Crise do Real


Acima, capa do livro 'Crisis of Real'.

Na década de 1970, artistas de várias linguagens saíram em centenas de direções de uma só vez, e a partir daí a arte passou a ser constituída por uma mistura de mídias como parte da sua diversidade. A fotografia rapidamente foi incorporada nesse panorama e com ela, suas manifestações preexistentes em propagandas, cartazes, imagens de revistas e, também, coleções de fotos de álbuns familiares. O uso de imagens técnicas, com base na câmera, passa a ser um elemento essencial de vínculo com a cultura contemporânea que veio a ser chamada de pós-moderna. Para Andy Grundberg (1990), crítico americano interessado na relação entre fotografia, o mundo da arte e os meios de comunicação na pós-modernidade*, a acentuada teatralidade, artificialidade e densidade conceitual das imagens produzidas a partir dos anos de 1980 são sintomas de uma profunda diferença entre os modos de pensar e produzir fotografias na pós-modernidade. Fotografias para os artistas pós-modernos não são mais vistas como janelas transparentes sobre o mundo como para seus antecessores modernistas, e sim intricadas teias fiadas pela cultura, afirma o autor.



Assim, o trabalho de artistas como Cindy Sherman (acima) com suas várias séries de autorretratos, coloca em xeque a idéia de identidade pessoal, gênero masculino e feminino, ou as personagens mitológicas, as atávicas, ou para cada uma das máscaras de todos nós.



Os ‘Family Docudramas’ de Eileen Cowin, (acima) em que a artista fotografa a si e a própria família - incluindo sua irmã gêmea -, encenando momentos do cotidiano, também marcam o período. A teatralidade das sequencias faz alusão ás fotonovelas e sugerem também que a nossa idéia de realidade é feita de imagens. Tornam explícito o domínio da fotografia como mediação entre o mundo exterior, repleto de signos midiáticos e, o interior, feito de imagens contaminadas desse excesso visual que circula pelos nossos ambientes íntimos.
Flavya Mutran
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* Para Grundberg, o termo pós-modernismo no mundo da arte passa a significar algo mais do que simplesmente o que viria após o modernismo, sendo uma espécie de sub-cotação dos pressupostos básicos sobre o papel da arte na cultura e sobre o papel do artista em relação à sua arte, podendo ter conotações diferentes dependendo da linguagem em questão, como a dança, a arquitetura, a literatura e, também, a fotografia. GRUNDBERG, Andy. Crisis Of The Real: Writings on Photography, 1974-1989. NEW YORK: APERTURE, 1990.

Um comentário:

Unknown disse...

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