segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Mais beijos...nunca são demais!

'Se lembra quando agente chegou um dia acreditar...' Foto© Flavya Mutran - Belém/PA - 2006

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Beijos de prata

Junte um olhar que vira um clic roubado e uma cena eternizada pelas lentes de algum mestre da fotografia e teremos uma combinação saborosa que alimenta a alma de qualquer voyeur. Será que é possível escolher as 10 fotos dos beijos mais bonitos da fotografia clássica? Eu deixo aqui os meus preferidos.

Man Ray, 'hands on lips', 1929.

Helmut Newton, Le baiser, 1982.

Sabine Weiss, 'Kissing Teenagers', paris 1955.

Robert Doisneau, 'Le Baiser de L'Hotel de Ville', Paris, 1950.

Henri Cartier-Bresson, 'boulevard diderot', Paris, 1969.

Elliot Erwitt, "California', 1995.

Alfred Eisenstaedt, 'Kissing on VJ Day in times square', 1945.

Brassäi, 'Lovers in Bistro', 1932-33

Edouard Boubat, 'Ile Sanit Louis', 1975.

André Kertész, Lovers, Budapest, 1915.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

De névoa e de sonho

Uma coisa sempre me fascinou na biografia de alguns fotógrafos, o fato da fotografia aparecer na vida das pessoas como forma de expressão pessoal, articulação de idéias, expansão de horizontes ou mesmo resgate da auto-estima e meio de liberar demônios e dores. Julia Margaret Cameron, do Séc.XIX e Diane Arbus, do Séc XX são duas mulheres que, separadas por quase 100 anos de diferença, usaram a fotografia para representar personagens que parecem saídos de sonhos. Duas fotógrafas que são exemplos de como a fotografia pode ser decisiva para a transformação pessoal e social.

'The Gardeners Daughter’, 1867, e ‘The Passing of Arthur’, modelos do círculo privado emprestam suas figuras para personificar os sonhos de Margaret. Passa-tempo lúdico por entre os jardins e os inúmeros cômodos da mansão da artista na Inglaterra.©Julia Margaret Cameron

Margaret Cameron, inglesa que começou a fotografar com mais de 40 anos de idade, encontrou nas dificuldades técnicas com a fotografia um modo particular de fazer retratos. Sua primeira câmera só permitia um ponto de foco, desfocando os demais, e somado a isto os longos tempos de exposição da época ajudavam a deixar as imagens de Cameron encobertas por uma atmosfera que contribuía em muito para o clima onírico que envolvia suas personagens. Mais tarde, mesmo trocando de equipamento, continuou a usar deste artifício técnico para criar a névoa que encobre suas fotos como um estilo pessoal inconfundível.


'Russian midget friends in a leaving room on 100th Street,’ e ‘Retired man and his wife at home in a nudist camp one morning’, de 1963 ©Diane Arbus.

Diane Arbus, americana, também começou a fotografar já casada, por volta dos anos de 1940, produzindo fotos para o marido, e só mais tarde começou a fotografar profissionalmente. Arbus passou também a utilizar o que seria uma de suas marcas registradas: o flash diurno como modo de destacar os retratados em primeiro plano. Tanto Cameron quanto Arbus não precisavam da fotografia como meio de subsistência e sim a tinham como uma forma de resistência cultural aos papéis pré-programados de donas-de-casa e mães. De famílias ricas, viveram cercadas de luxo, mas também tiveram acesso á cultura, arte, outras línguas e informação.

À esquerda, Julia Jackson, 1867 ©Julia Margaret Cameron, e ao lado, foto de Marcella Matthaei, em 1969 por ©Diane Arbus.

Os modelos de Cameron eram no início apenas pessoas da família, amigos e alguns empregados. Na Inglaterra Vitoriana a idéia de que a ciência era uma recreação ideal para os meninos porque desenvolvia seus atributos de observação e análise, inspirou Cameron a usar a fotografia como entretenimento e como uma forma de desafiar os princípios religiosos vigentes, permitindo um deslocamento dos valores espirituais da religião para a literatura, as ciências e para a arte.



‘I wait’, 1860 ©Julia Margaret Cameron e ‘A Child Crying’, 1967 por ©Diane Arbus

Religiosidade, mitologia grega, pinturas renascentistas, e principalmente a literatura foram os temas mais explorados por Cameron, que encontra na figura da mulher sua expressão mais recorrente. É curiosa e até ingênua a maneira como ela explora os rostos familiares travestindo-os em figuras imaginárias sem o compromisso com o valor documental da fotografia, tida inicialmente, como instrumento duplicador da realidade. Ela quebra estas barreiras e toma posse da fotografia como ferramenta de criação de personagens arquetípicos, polêmicos (como Beatrice Cencil ) e ficcionais.



À esquerda, imagem Pre-Raphaelite Study 1870, ©Julia Margaret Cameron e ao lado, ‘Albino sword swallower at a carnival’, de 1970, © Diane Arbus. Imagens coincidentes e atemporais na leveza de retratar a mulher, com um intervalo de 100 anos entre ambas.

Já Diane Arbus foi além, não precisou criar seres estranhos ao seu universo fantasiando modelos para expressar sua criatividade. Foi direto buscar na multiplicidade de tipos humanos reais, todos os elementos bizarros que ilustrariam qualquer enredo fantástico. Diane retratou travestis, anões, deficientes mentais, nudistas, casais de idades e etnias diferentes. As pessoas à margem da sociedade atraíam Arbus, que as fotografava como ninguém: não se tratava de explorar a imagem dos excluídos, e sim de estabelecer contato e criar uma relação de confiança entre ela e os seus fotografados.
Segundo Mauricius Farina, “A narrativa presente na obra de Arbus é de reação aos ideais de uma sociedade de consumo em que a imagem pertence a uma ordem positiva e a liberdade, como um valor presente que garante a todos uma condição democrática de vida, é ilusória. Há na sociedade de consumo uma sensação de repúdio ao mundo dos anormais, esse mundo bizarro que denuncia a hipocrisia do mundo ‘normal’; é nessa via que Arbus trafega”.
De sonho e de névoa os olhares dessas mulheres mapearam os território de afetos possíveis no rosto humano, como fronteiras de fantasias e de verdades.
Por Flavya Mutran

LEIA MAIS
1 ‘OS RETRATOS FEMININOS DE JULIA CAMERON’, de Amanda França, disponível em http://www.speculum.art.br/module.php?a_id=338
2 ‘Na altura da carne e depois do espelho’, de Maurícius Farina, disponível em http://www.studium.iar.unicamp.br/13/4.html

terça-feira, 3 de junho de 2008

Uma janela para imagens e reflexões sobre o tempo


Abaixo, a heliografia de Joseph Niépce de 1826; e acima, uma das imagens de Marte, de 1965. Com um intervalo de quase 140 anos entre as duas imagens, a paisagem da janela, seja ela de que mundo for ainda tem sido um dos maiores interesses da humanidade em todos os tempos.



Este blog pretende ser um espaço para tratar de lembranças e de esquecimentos. E justamente por se tratar de fragmentos do tempo e da memória é que as primeiras imagens aqui publicadas são marcos na história da fotografia.
Uma é considerada a primeira ‘fotografia permanente do mundo’, conseguida após inúmeras e exaustivas tentativas do francês Joseph Niépce para registrar a paisagem da janela do seu quarto nos arredores de Paris, no verão de 1826. O processo, batizado por Nièpce como heliografia (ou grafia da luz solar), dependia de longos tempos de exposição em placas de estanho recobertos com verniz de asfalto, conhecido como betume da Judéia, já utilizando as câmeras escuras fabricadas pelos famosos irmãos Chevalier, óticos franceses. Resultado de oito horas ininterruptas de exposição, este único ‘clique’ registra os claros e escuros de uma combinação intrigante entre luz e tempo. Nenhuma imagem impressa antes tinha sido tão técnica, e ao mesmo tempo tão abstrata como esta. Jamais o mundo recebeu tal representação assim, fruto da combinação entre a engenhosidade humana e seus meios mecânicos, com a mágica da grafia da luz sem a dependência direta das aptidões de um desenhista para representá-la. O deslocamento das sombras dos telhados em frente à janela de Nièpce inaugura um novo olhar sobre a relação do homem com o tempo, e apesar da precariedade dessa imagem frente aos registros posteriores de Daguèrre, - este sim considerado o pai do processo que conhecemos hoje como fotografia,- esta vista da janela do sótão em Charlons-sur-Saône de Nièpce representa o início de um debate sobre o que de objetividade e ficção existe na linguagem fotográfica.
A segunda foto é também coincidentemente uma espécie de vista de janela, e apesar de também uma imagem monocromática precária, foi, ao seu tempo, um divisor de águas, ou melhor, de luzes no que se refere às técnicas fotográficas. Trata-se de uma das 22 imagens da superfície de Marte feitas por uma câmera de televisão a bordo da sonda Norte americana Mariner 4, em 1965. Consideradas como as primeiras fotografias sem o uso de filme, apesar de não serem produzidas por meios puramente digitais são instantâneos realizados remotamente (com transmissão interplanetária) sem a necessidade sequer de um astronauta para acionar o disparador da máquina. O grande avanço possibilitava um ganho na rapidez do processamento da imagem, uma vez que dispensava a necessidade de ter que retornar do espaço para revelar o filme e ampliar as cópias. Apesar de pequenas para os padrões atuais, a transmissão das fotos com pouco mais de 0,04 megapixels levou aproximadamente quatro dias para chegar à Terra. Das oito horas de Nièpce para os quatro dias de transmissão das vistas de Marte da Mariner já se vão mais de 100 anos. Mudaram os meios, os olhos, os temas, mas o desejo pela perpetuação de como vemos o mundo a nossa volta permanece.
Sejam quais forem os autores, os períodos e temas, a fotografia é o foco principal deste espaço que, espero, receba contribuições dos amigos e interessados nos assuntos postados aqui. Vamos em frente!